“Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra.” Jesus. (João, 8: 43.)
Se houve alguém na terra com suficiente conhecimento de causa para definir o Supremo Criador do Universo, esse alguém foi Jesus, que o representava, de forma fiel e sublime, diante da humanidade ignorante e sofredora.
Exercendo com amor e sabedoria sua divina missão de revelá-Lo a nós outros, não se perdeu em demonstrações da inteligência, e sim na sinceridade de seus atos e palavras simples e de fácil entendimento para tantos quantos o escutavam e seguiam, investindo na exemplificação do que ensinava para renovação moral do indivíduo.
Não se fazia presunçoso, não utilizava a violência, o Mestre incomparável serviu apenas, elegendo o amor puro e irrestrito, como recurso irresistível de sua mensagem inesquecível.
Buscava extrair dos indivíduos a melhor parte para exaltar suas qualidades e incentivá-los a procura dos dons que os fariam encontrarem um dia a gloria excelsa da pureza espiritual. Ensinando com simplicidade os doutores do Templo, não lhes menosprezando a cultura, ao contrário, utilizava-se de seus conhecimentos para melhor esclarecê-los; no lindo e histórico contato com Zaqueu, não lhe maldiz os haveres conquistados, mas ensina-lhe como usá-los; diante de Madalena, não lhe maldiz a condição de mulher equivocada e sofredora, procura fortalecer-lhe o bom ânimo; junto aos Enfermos de todos os matizes, não lhes destaca os erros e compromissos, simplesmente estende as mãos dadivosas para ajudá-los; perante a triste atitude de negação de Pedro, não lhe condena a fraqueza, aguarda a oportunidade para ampará-lo com seu imenso carinho; quando se vê diante de seu grande perseguidor Saulo de Tarso, não lhe amaldiçoa a alma, nem lhe deseja os sofrimentos infernais da consciência culpada, procede com bondade e transforma-o em servidor da causa do bem.
“Muita gente escuta a Boa Nova, mas não lhe penetra os ensinamentos”.
Isso ocorre a muitos seguidores do Evangelho, porque se utilizam da força mental em outros setores.
Creem vagamente no socorro celeste, nas horas de amargura, mostrando, porém, absoluto desinteresse ante o estudo e ante a aplicação das leis divinas. A preocupação da posse lhes absorve a existência.
Reclamam o ouro do solo, o pão do celeiro, o linho usável, o equilíbrio da carne, o prazer dos sentidos e a consideração social, com tamanha volúpia que não se recordam da posição de simples usufrutuários do mundo em que se encontram e nunca refletem na transitoriedade de todos os patrimônios materiais, cuja função única é a de lhes proporcionar adequado clima ao trabalho na caridade e na luz, para engrandecimento do espírito eterno.
Registram os chamamentos do Cristo, todavia, algemam furiosamente a atenção aos apelos da vida primária.
Percebem, mas não ouvem.
Informam-se, mas não entendem.
Nesse campo de contradições, temos sempre respeitáveis personalidades humanas e, por vezes, admiráveis amigos.
Conservam no coração enormes potenciais de bondade, contudo, a mente deles vive empenhada no jogo das formas perecíveis.
São preciosas estações de serviço aproveitável, com o equipamento, porém, ocupado em atividades mais ou menos inúteis.
“Não nos esqueçamos, pois, de que é sempre fácil assinalar a linguagem do Senhor, mas é preciso apresentar-lhe o coração vazio de resíduos da Terra, para receber-lhe, em espírito e verdade, a palavra divina”. ¹
O Mestre procedeu dessa forma em todos os acontecimentos em sua passagem por nosso planeta, mostrando-nos que somente através do amor proposto e vivenciado por Ele, é que conseguiremos de alguma forma sentir a grandeza da paz que ele possuía.
Foi o próprio Jesus quem nos convidou a segui-lo, estabelecendo como norma para nossa vida as mensagens da Boa Nova que Ele trazia das esferas superiores em nome da Soberana Sabedoria, ensinando que a felicidade que tanto almejamos desfrutar, não está subordinada à quantidade de bens materiais que possuímos, e sim, no cultivo do amor, e do respeito a Deus e ao próximo.
Francisco Rebouças
Referências:[1] – Xavier, Francisco Cândido – Livro: Fonte Viva – Capítulo 48